16/12/2009

SENTIMENTOS PASSAGEIROS ou SOBRE COMO AS COISAS SE REPETEM

Sim. Sentimentos são passageiros. Não importa a intensidade. Não importa se você tem 16 anos. Ou 31. Você ama alguém e, de repente, já não visualiza planos a longo prazo. Aquela saudade passou, o ódio se diluiu, a culpa se perdeu no tempo. O sentimento, não é mais. E passam os anos. E aí você percebe que estar sozinho é um (bom) caminho. E aí você olha pra trás e percebe ainda que tanta coisa se repetiu, que tanto amor não vingou, que tanta saudade pra quase nada, que tantas noites em claro...pra que? Que tanto desperdício por algo que, lá na frente, não será mais? E aí você me pergunta: é melhor se trancar no escuro do quarto e jogar a chave fora? E eu respondo: claro que não. Sentir essa mistureba toda ainda é a melhor coisa do mundo. Mas é uma lástima que a gente nem sempre constate isso a tempo de evitar que certos sentimentos devastem nosso centro. E isso se repete a vida toda. E isso cansa. E saiba que, mesmo depois de quebrar a cara, você vai lá e faz tudo de novo. Igualzinho. E aí sente tudo de novo. E tudo, de novo, passa. E, envolto nesse círculo vicioso, me pergunto: preciso disso? Pois decidi que não. Não preciso. Afinal, ficar sozinho é um bom caminho, sim. Nada de remorso, nada de culpa, nada de sentimentos. Nada de repetições. Nada de nada. Eu sinceramente acreditei, por um bom tempo, que certos acontecimentos podem ser isolados ou que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Mas a vida é infinitamente maior do que costuma-se prever. E, ainda assim, é previsível demais. Quando você tem 31 anos e ama alguém, infinitamente, mais que tudo e, por circunstâncias diversas, esse amor termina (impossível medir isso, não?), opa! Você chega a conclusão de que já viu esse filme em algum lugar. Onde? Se olhe no espelho. E aí você sente os ombros pesados, os pés se arrastam e você anda por aí desnorteado, com a sensação de que qualquer cachorro vira-latas tem a vida mais interessante que a sua. Pois, acredite: tem mesmo. Uma lástima constatar isso, né não? Decidi dar um tempo, enfim. E que venha mais esse capítulo. Cheio de sentimentos. Que seja. Mas, sozinho. Talvez aí eu tenha a impressão de que certas coisas não se repetirão. E esse, definitivamente, será o melhor caminho.

10/12/2009

O DIA AMANHECEU CINZA

“So much hurt / So much pain
Takes a while / To regain / What is lost inside”
("Out of Reach", Gabrielle)


Escuto "Out of Reach", uma música muito legal - e tristonha - de uma cantora chamada Gabrielle. Nem sei porque comecei o post falando dessa música. Mas hoje, na real, não tenho muito pra falar, não gosto de dias cinzas e Floripa amanheceu cinza. Não sei se alguém vai ler isso, não sei o que realmente quero escrever. Não sei. Floripa por vezes me inspira, por vezes me suga, por vezes me desestabiliza. A cidade, às vezes, nos engole. Lembro-me quando morei em São Paulo. Boas lembranças, embora a maior cidade brasileira tenha me consumido. Fugi de lá. Guri novo, despreparado, não consegui lidar com a vida que me chamava – reconheço. Mas não me arrependo, não. Em Floripa, guardadas as devidas proporções, também sinto um pouco disso. Essa coisa de “energia do lugar”. E aí eu sinto falta de pessoas, de momentos que ficaram pra trás. “Leva um tempo pra gente recuperar o que está perdido por dentro”, diz a música de Gabrielle. Tem horas que acho que esse “tempo”, no meu caso, sempre demora um pouco mais. Demorei a me acostumar com Floripa, demorei a encontrar o equilíbrio necessário pra suprir a falta que sentia (e sinto!) dos meus amigos, daquela vida que ficou pra trás, do meu teatro, de tanta coisa. Eu ando pelas ruas dessa cidade e, até hoje, não consigo saber se amo ou odeio esse lugar. Se um dia descobrir, talvez vá embora. Porque aí já não terá mais graça. Sei que quando começo a me cansar de algo, de alguém ou do lugar em que estou, eis o sinal: devo procurar outra coisa que me instigue, outra pessoa que não me canse, outra cidade que me permita respirar melhor. Hoje o dia amanheceu cinza e eu, que acordei com a bunda e o corpo todo destapados no escuro do meu quarto, senti frio. Por isso esse post íntimo, cujas palavras talvez nem signifiquem nada pra ninguém. A vida é assim mesmo: momentos incrivelmente solitários pra todo mundo, dias cinzas, palavras perdidas, a gente sem entender nada...e talvez nem precisemos entender. Quando entendemos tudo, tudo perde a graça.